Os impactos da Inteligência Artificial (IA) no jornalismo estiveram em destaque na segunda sessão plenária do 8º Congresso Internacional de Ciberjornalismo. Edson C. Tandoc Jr., da Nanyang Technological University, em Singapura, falou sobre o impacto da automatização na prática jornalística, realçando a importância de se pensar a forma como as pessoas se relacionam com os meios de comunicação. Durante a conferência o professor e investigador abordou também as questões da transparência e da necessária confirmação dos dados com que a Inteligência Artificial trabalha. Na apresentação que intitulou de “Journalism Studies in the Age of AI”, Tandoc enfatizou ainda a necessidade de os estudantes desenvolverem um pensamento cada vez mais crítico e não esquecerem que o verdadeiro jornalismo é feito com trabalho de campo.  

O investigador lembrou que o processo de gatekeeping, tão importante no contexto jornalístico, já pode ser assegurado pela IA, bem como muitas outras atividades no meio jornalístico, da tradução à escrita de notícias, passando pela apresentação dos noticiários, que pode agora ser assegurada por pivôs criados com Inteligência Artificial. Neste contexto, Edson realça, uma vez mais, que é fundamental refletir sobre as consequências da IA, sobretudo considerando que não é ainda possível saber como esse uso pode afetar a sociedade.

Durante a sessão Edson C. Tandoc Jr. apresentou também dados sobre um estudo realizado com 186 jornalistas em Singapura. A investigação mostrou que a maioria dos profissionais ainda desconfia da qualidade do trabalho desenvolvido pela Inteligência Artificial, sendo por isso reduzido o número daqueles que afirma que faz uso desta ferramenta no seu trabalho. O investigador realçou, no entanto, que vários meios de comunicação e grupos de media em Singapura, como o Lianhe Zaobao, AsiaOne e Mediacorp, já estão a utilizar IA. Entre 2023 e 2024 terá mesmo aumentado a presença de IA nas redações, dando a ideia de que os diretores podem estar mais abertos à utilização de IA do que próprios  jornalistas.

A curva de adoção da tecnologia também foi abordada na sessão, com o investigador a destacar o modo como o ChatGPT passou a ser usado de forma massiva. Para Edson C. Tandoc Jr. essa adoção tão rápida mostra bem a necessidade de perceber como é que a audiência se sente em relação ao avanço da IA e ao consumo de conteúdos gerados por esta.

A apresentação terminou com uma abordagem sobre as questões éticas que se colocam com o uso de IA, e a importância de, perante uma normalização do uso da Inteligência Artificial, os jornalistas terem de se adaptar, sem nunca esquecer as regras jornalísticas que caracterizam a profissão.

Maria Eduarda, 2º ano Licenciatura em Ciências da Comunicação